sábado, 9 de maio de 2009

A Mula nossa de cada dia

Certas vezes descrevo uma vontade ferrenha de "domar a mula". Venho hoje, nessas Santas Horas, tentar descrever qual sentimento retrato nessa expressão.

Em uma passagem bíblica (em mais de um evangelho), encontramos que Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumentinho. O que afirma ensinamentos já trazidos no antigo testamento, como:

"Eis que teu Rei vem a ti, cheio de doçura, montado em um jumentinho."
ZC 9,9.

Pois bem, mula é o indivíduo fêmea resultante do cruzamento de um jumento com uma égua. Quando a cria é macho, chama-se burro.

Minha súplica de "domar a mula" seria mais bem descrita se usasse "Burro", já que não há dúvidas quanto à masculinidade de meu corpo físico. Mas ficaria muito pejorativo e um tanto quanto agressivo.

Compreendo que tudo na Bíblia traz um sentido velado, o qual se revela apenas àqueles capazes de assimilar seus ensinamentos. Sinto-me empelido a reforçar o alerta que não sou o dono da Verdade e essa é apenas a minha impressão sobre o assunto.

Jerusalém seria o Reino dos Céus, o paraíso, etc. E o "jumentinho" seria o nosso corpo material, nosso aspecto mais denso e grosseiro.

Paulo diz em Romanos, 7:15: "Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço". E ainda continua (Rm 7:20): "Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita".

Isso exemplifica a guerra que travamos entre nosso Eu Verdadeiro (nosso espírito) e nossa Mula (nosso corpo físico).

Jesus consegue montar em seu jumentinho e adentrar Jerusalém, sendo louvado. Ou seja, Jesus, em sua disciplina consegue ter total domínio sobre o corpo físico, fazendo apenas o que o Espírito deseja, sendo esse domínio um requisito primordial para o que Santa Teresa Dávila trata de "casamento com Cristo".

Quantas vezes refleti que não deveria ter falado, pensado ou até mesmo agido de tal maneira. Muitas dessas vezes, no exato momento, desejava agir diferentemente, com luz, paz e amor, mas a raiva, a ignorância ou outro aspecto inerente da mula não deixou.

O Bispo Tomaz de Kempis ensina que se o homem conseguir refrear o desejo da gula conseguirá dominar qualquer outro aspecto do corpo se tiver vontade. Daí explica-se muito a importância da prática de jejum.

O Mestre Raimundo Irineu Serra deixou claro a recomendação de dieta específica para os trabalhos espirituais. Dieta essa quase impraticável para aqueles dominados pela sensualidade ou amarrados na vaidade.

De onde nascem os vícios? Certamente da rebeldia dos jumentos e mulas. Por exemplo, alguns tentam parar de fumar, mas o corpo necessita, pede e domina a vontade. É necessário força e persistência para vencer qualquer dessas batalhas.

Mulas são animais extremamente fortes!
É inevitável seu uso para a travessia do caminho, mas é de suma importância o amansar desse animal antes de conseguirmos direcioná-lo para onde queremos.

Esse é um trabalho diário e constante. A todo momento a mula quer empacar ou seguir sua própria vontade. Para atingirmos a meta é preciso muito suor e, certamente, muito sofrimento, com penitências, desapegos, resignação e fé.

Apenas com o pensamento ininterruptamente voltado a Deus, pode-se chegar a despertar o Cristo que bate à nossa porta.


Que Cristo nos dê força para superar as adversidades e domar a cada dia essa mula!

Homini Pax!

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